domingo, 9 de setembro de 2007

Japa de olho grande

Sou mestiça. Sunsei. Mistura entre japonês com brasileiro.

Meu pai é brasileiro, paulistano mesmo. Morou sua vida inteira por aqui, e só depois de ver as suas quatro filhas encaminhadas na vida, é que começou a conhecer o mundo.

Minha mãe é japonesa. Nissei. Nasceu aqui no Brasil, mas seus pais são do Japão, vieram pra cá fugindo da guerra, como a maioria da colônia japonesa que existe por aqui.

Quando criança, como todas que têm uma vida normal, visitava freqüentemente meu dithán e bathán (para os que não são japas, meu avô e avó, respectivamente). Eles quase não falavam português, e por esse motivo, quase não conversávamos. Mas eu entendia o que eles diziam, mais uma vez, porque era uma criança normal e saudável, e aceitava, ou não, os mandius e motis que eles me ofereciam.

Lembro-me muito bem do cheiro da casa deles, que só uma casa típica japonesa, que utiliza todos e exclusivamente, os ingredientes da culinária nipônica. Os livros, os quadros, os chinelos e roupas. As maneiras de comer, de cumprimentar, de sentar, como se comportar, com o olhar indireto e sempre olhando para baixo. Passos curtos e rápidos, gestos e palavras contidas. Tudo é diferente, parece outro país, do outro lado do mundo. E quando crescemos no meio disso, só percebemos o quanto somos diferentes das outras pessoas, quando passamos um tempo longe.

Hoje, depois de quase 10 anos que eles faleceram, tenho a consciência que tenho minha cultura divida em dois mundos. Não porque aprendi em livros ou ouvi alguém contando, mas porque tive uma experiência de vida que só alguém com algum laço sangüíneo sabe de que estou falando.

Quem pensa que conhece a cultura japonesa, só porque sabe os nomes dos sushis e sashimis da moda, ou por causa de alguma coincidência bizarra da vida, para mim, é apenas uma pessoa fascinada e deslumbrada com uma coisa ou situação nova. Não falo isso com desdém ou com algum aborrecimento, apenos porque acho engraçado o súbito interesse por uma cultura tão longe e diferente da brasilieira, e isso ter virado tão momentaneamente "in" por aqui.

Um comentário:

Cafeína SP disse...

O interesse das pessoas é genuíno. Acredite!
Pelo menos na maioria dos casos.